Tibério Vargas Ramos
Que vexame cobertura da imprensa velha no atentado a tiros ao ex-presidente americano durante comício da campanha eleitoral no Condado de Butler, Pensilvânia, em 13 de julho de 2024, data que ficará na história. “A Guarda de Fronteira me salvou”, disse Donald Trump a um amigo, horas mais tarde, ao lembrar que abaixou a cabeça para ler um número no teleprompter sobre imigração. Ao girar a cabeça à direita, para baixo, a bala do fuzil AR-15 cruzou a milímetros de seu cérebro, acertando o alto da orelha “extrema direita”.
Exceções para Oeste e Gazeta do Povo, o consórcio quis negar, com títulos iguais, um copiando do outro, e textos semelhantes: “suposto som que lembra tiro”, caiu “do” palanque, não “no” palanque, na verdade se abaixou, “sangue no rosto”. Nos primeiros informes, parece que não havia nenhum repórter no local cobrindo o evento. Imagina-se que os textos foram editados por um estagiário de plantão com nojinho do ex-presidente, todo arrepiado, fechando os olhos para o fato.
No mínimo, foram disparados três ou quatro tiros. O bombeiro Corey Comperatore, 50 anos, morreu ao se jogar na frente dos filhos para protegê-los. Além de Trump, mais dois espectadores baleados: o fuzileiro naval David Dutch, 57 anos, e James Copenhaver, 74 anos, filiado ao Partido Democrata, e que fora apenas assistir ao comício do adversário.
O atirador era Thomas Matthew Crooks, um jovem de 20 anos, franzino, que usava óculos. Trabalhava como auxiliar de cozinha, em Bethel Park, a 70 km do local. No sábado, pediu folga ao seu chefe, porque tinha “algo a fazer”, logicamente não especificando o quê. Previamente ele havia se filiado ao Partido Republicano, mas nunca votou, seria a primeira vez, e jamais postou algo político nas redes sociais. Apenas fez uma doação a uma organização vinculada ao Partido Democrata, retirada de seu parco salário.
Crooks se aproximou com uma mochila de um prédio baixo, a 150 metros do palanque. Teria chegado ao telhado escalando aparelhos de ar-condicionados na fachada. Deitou-se na cobertura pouco inclinada, em nível levemente abaixo do tablado onde estaria o candidato a presidente dos Estados Unidos. Foi visto pela multidão se movimentando no telhado durante o discurso de Trump. Populares gritaram para a polícia, que chegou a fotografá-lo, sem nenhuma atitude concreta das forças de segurança.
O rapaz teve oportunidade de usar equipamento para medir a distância, usou alça de mira e abriu fogo, aparentemente nervoso e sem perícia: fora excluído de uma escola de tiro. Uma bala passou de raspão em Trump e as outras acertaram o público. Segundos de pânico, tiros zunindo, não apenas “sons que lembram tiros”. Finalmente os snipers, postados no prédio atrás do palanque, o “neutralizaram”, no jargão policial. “Foi morto” na linguagem fria, “assassinado” segundo jornalistas. Sem teorias da conspiração de nações e interesses, possíveis ou não, está mais para um “lobinho solitário”, impulsionado pelo discurso de ódio contra Trump, alimentado pela mídia há oito anos, desde que ele era um menino de 12 anos, filho de um pai que se diz “libertário” e de uma mãe democrata.
Depois de jorrar tanto sangue, não havia mais como negar o atentado. A imprensa europeia, na abertura dos sites, às 5h da manhã do dia seguinte, admitiu a tentativa de matar Trump. Os portais americanos referendaram somente depois que Obama se pronunciou e deu o “sinal verde”: podem fazer jornalismo. Então, os velhos repórteres foram convocados para apurar os fatos.
O consórcio brasileiro ainda tenta escamotear e só aumenta a vergonha. Um editorial de importante jornal no passado credita ao próprio Trump a culpa do atentado, por seu “discurso de ódio”, comentarista do canal de notícias de maior audiência na TV a cabo crava que foi um teatro. Um “suposto jornalismo”!
Os jornalistas de hoje têm pequeno vocabulário, resumido em palavras-chaves, qualificando pessoas e informações. Direcionam as matérias, não tanto por ideologia arraigada, acreditem, mas restrito e treinado raciocínio simplista. Movidos pelo “amor”, destilam ódio, o alvo é demonizado pela comunicação e proscrito pela lei, um conluio perfeito. Na antiga imprensa, éramos nós contra o mundo. Entrávamos na redação dos jornais, portas de vaivém como os saloons do velho oeste, armados até os dentes de informações. Bons tempos contra os fora da lei.
Lamento informar: os repórteres de hoje serão substituídos pela inteligência artificial com vantagem. Em sala de aula, dizia aos meus alunos de Jornalismo, em 40 anos: vocês têm que dominar a técnica, mas só serão indispensáveis se forem diferentes.