Tibério Vargas Ramos
Formado em Medicina, em primeiro lugar, para agradar o pai médico, ele me contou, Carlos Fehlberg nunca exerceu a profissão, tornando-se jornalista. Como diretor de redação, conduziu Zero Hora ao seu momento de maior importância, após o fechamento dos jornais da Caldas Júnior, em 1984, chegando aos domingos a 120 páginas e tiragem de 225 mil exemplares em 1992, ao ser rebaixado para o Diário Catarinense. Comparada com aquela, a tiragem atual é irrisória.
Fehlberg tinha lado, todo mundo sabia, foi porta-voz do governo Médici, mas jamais cancelou jornalista por opinião política, desde que não fosse panfletário ou quisesse impor sua ideologia. Sua coluna diária de política levantava assuntos, não fazia julgamentos definitivos, gostava muito de usar o termo “questionamentos”. Era um jornalista de outros tempos. Ele chegava no jornal de banho tomado, cabelos ralos úmidos, baixo e levemente obeso, casado com uma jovem bonita, e passava a vida na redação, até de madrugada, se alimentando de pastéis, que carregava no bolso do casaco.
Em Florianópolis, onde ele residia, aposentado, foi atendido algumas vezes no plantão de cardiologia do hospital pelo meu sobrinho Luciano Ramos Boff. Falante, na primeira consulta o velho jornalista identificou o parentesco do cardiologista comigo, ficou feliz, risonho. Morreu neste domingo, 15 de janeiro de 2023, na capital catarinense, aos 88 anos de idade, dos históricos problemas cardíacos, agravados por AVC e falha nos rins. Vai com Deus, meu chefe e amigo.