Tibério Vargas Ramos
Ensaios
Jogo o meu coração
A metafísica da imprensa

Elon Musk na posse de Trump (Reprodução)

A mão direita no coração (Reprodução)

Joga o coração ao píublico (Reprodução)

E repete o gesto para o público às suas costas (Reprodução)

Tibério Vargas Ramos

O iluminismo francês de Rousseau que originou o terror jacobino na Revolução Francesa, o marxismo, o materialismo, os filósofos do niilismo e do apocalipse, os pensadores da Escola de Frankfurt, tudo se encaminhou para a decretação do fim da objetividade na imprensa, a realidade se tornou subjetiva. O jornalismo informativo se desdobrou primeiro no interpretativo, com pesquisa, análise, conexões e projeções, mas ainda com base em fatos, para enveredar de vez para a pós-verdade. O jornalista passou a ser um neoplatônico, o fato acontece apenas no raciocínio, de acordo com uma cartilha preconcebida. A metafísica da imprensa.

Quando vê uma semente, o repórter descreve a árvore com frutos maduros ou podres que pode gerar. Mas ela continua sendo apenas uma semente, não foi plantada, cultivada, pode nunca germinar. Uma flor pode motivar sentimentos de amor ou saudade, mas continua sendo apenas uma flor, não uma poesia.

No fim do século 20, o teólogo americano John F. Haught escreveu “Deus após Darwin”, para mostrar, a partir da teoria evolucionista, que foi Deus quem criou o universo. Quase mil anos antes, Santo Tomás de Aquino partiu do materialismo para provar que é através dos cinco sentidos, a liberdade e o livre-arbítrio, que o homem percebe o mundo criado por Deus. A realidade objetiva eleva o pensamento ao seu Criador. Contraditou a lógica metafísica de Platão com um raciocínio aristotélico. O escritor inglês G.K.Chesterton, autor da biografia do frade italiano, diz, com humor, que Aquino “batizou Aristóteles”.

O tato, a audição, a visão, o olfato e o paladar são as ferramentas de um repórter para descrever um fato concreto, prática elementar abandonada em nome de ideologia. A imprensa não relata um acontecimento, um gesto, mas monta uma narrativa com base na cartilha. Elon Musk, na posse do segundo mandato de Trump, em 20 de janeiro de 2024, coloca a mão no peito e depois estende o braço ao público de um ginásio de basquete, localizado na frente dele e repete o gesto para quem está às suas costas, dizendo, “jogo a vocês meu coração”. A imprensa conclui que ele fez um gesto nazista, como se estivesse num desfile para Hitler. Quando o jornalista manipula e mente por ideologia, linha editorial, displicência, desatenção ou dinheiro direto no bolso, ou várias causas paralelas, a primeira coisa que ele perde é a dignidade.

Publicado em 21/1/2025
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