Tibério Vargas Ramos
(resenha)
Pós-modernismo gaúcho

Cláudio Mércio (*)

O mestre dos mil instrumentos: Cláudio Mércio é professor de TV e baterista (Foto Raphael Seabra)

O mestre dos mil instrumentos: Cláudio Mércio é professor de TV e baterista (Foto Raphael Seabra)

Um autor não precisa se revelar em seu texto, mas Tibério Vargas Ramos dá pistas de quem é. Na primeira página do primeiro capítulo de “Sombras Douradas”, o gráfico alemão Gutemberg divide espaço com nerds obcecados por aplicativos. Não, Tibério não é um nerd. Tibério é um homem de imprensa, do bom jornalismo, que nas últimas décadas dedica-se a uma função tão nobre quanto a primeira: ensinar. É professor da Faculdade de Comunicação da PUCRS. Também não esconde sua origem de nascido no Alegrete. Conversa com o leitor sem medo de usar o “tu”. Busca não se esconder atrás do “você”, que ampliaria o mercado para a obra.

Em seu quarto livro pela Editora AGE, personagens transitam entre uma Europa do século XVI inflamada pelo Renascimento e o século XXI em que, nas palavras do autor, “milhões de pessoas em todos os continentes discutem em 2015 a cor imprecisa do vestido de uma noiva”. Não ouso caracterizar o livro de Tibério em um gênero. Os desavisados podem classificá-lo de romance pós-moderno. Bobagem. Tibério não é pós-nada. É presente. Tibério não fragmenta. Conecta. Ouso dizer que é um livro inteligente em que reis, rainhas e amantes da França convivem com Renatas e Anas de Porto Alegre com o objetivo de dar prazer ao leitor. Prazer este que segue um princípio básico de texto de qualidade. Um bom texto levanta hipóteses, possibilidades e argumentos. Assim é “Sombras Douradas”. Hipóteses, possibilidades e argumentos marcam as 263 páginas da obra, ora disfarçando-se em crítica social e cultural, ora vestindo a fantasia do romance. O desfile de personagens históricos – até o matemático Ptolomeu está presente! – pode levar o leitor ainda na faixa dos 20 e poucos anos e correr para o Google ou a Wikipédia. Se isto acontecer, o autor pode considerar-se realizado. Seria a prova de que sua obra conectou-se ao jovem tão seguro nas redes sociais, mas tão desconectado de uma história do antes.

Romance viaja no tempo

Romance viaja no tempo

A literatura de Tibério entende que estamos em um mundo que não aceita mais a fórmula da velocidade que se aprende na escola – velocidade é igual a distância sobre o tempo. Sabendo disso, o autor brinca com estes elementos. A quebra desta fórmula traz complexidade à obra. Em que velocidade vamos do século XVI ao XXI? Qual a distância entre o Aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre, e o Vale do Silício, na Califórnia? Quanto tempo o conhecimento enciclopédico precisa para navegar nas redes sociais? O autor afirma que “Sombras Douradas” é um livro de duas histórias. Humildade. Para o leitor insistente, é possível encontrar mais. A obra também apresenta a história do pensamento de Tibério Ramos, um dos maiores jornalistas que o Rio Grande do Sul produziu.

(Resenha publicada no Caderno de Sábado do Correio do Povo; Porto Alegre, 5 de setembro de 2015. Cláudio Mércio é professor de Televisão no curso de Jornalismo da Famecos/PUCRS.)

Cláudio Mércio, no Correio do Povo, 14/9/2015

Saiba mais sobre o livro:


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