Kother decide criar uma diretoria de compras on-line. As vendas diretas ao consumidor ganharam forte concorrência. Gerentes e vendedores, preocupados com a nova tendência, procuram demonstrar que navegavam na Internet com desembaraço, capazes de se credenciarem a uma transferência ao futuro: o comércio em contato virtual. Sílvio Luís anda obstinado: ele irá coordenar o futuro setor. Entra no elevador e aperta a tecla do subsolo. “Resta pouco tempo, tenho de agir.” Ao chegar no estacionamento, seu Corsa é dos poucos carros estacionados. A Mercedes dourada do chefe passou com os faróis de neblina acesos. Os vidros escuros escondem seus ocupantes. Mas ele sabia quem era o casal: o empresário saíra em companhia da diretora de recursos humanos. O marido dela costumava buscá-la de carro na companhia dos filhos pequenos, em algazarra no banco de trás. Naquela noite, não apareceram. Solitário convicto, cartão de crédito sem limite e sedutor, imensurável poder, Kother era um colecionador de aventuras. Solteiras, divorciadas, casadas; bem-queridas, mal-amadas, desprezadas, todas se aproximavam do gabinete envidraçado atrás de algo. Um cruzar de pernas, o olhar parcialmente encoberto pelos cílios, lábios úmidos. Quem iria atirar a primeira pedra? Jogavam-se numa aventura, relação, ficada. Voltavam esfuziantes, banho tomado, contabilizando alguma vantagem: a promoção, uma joia, a troca do carro, a entrada para o apartamento. Ninguém podia se queixar.