Da Redação do Site
O crítico cultural Romar Beling analisou em duas páginas o livro “Breno Caldas – A Imprensa e a Lenda”, publicadas na edição de fim de semana, dias 6 e 7 de julho de 2024, do jornal Gazeta do Sul, de Santa Cruz, RS. Com uma biblioteca de 15 mil obras, autor de um livro de entrevistas com escritores consagrados e sólida formação acadêmica em Letras e Literatura, em nível de graduação e pós, Beling é editor de cultura, responsável pelo caderno “Magazine”, na Gazeta. Eis, na íntegra, seus textos:
Por Romar Beling
Nesta semana, no dia 3, quarta-feira, o porto-alegrense Breno Alcaraz Caldas teria estado de aniversário (nasceu em 1910). É uma data que, para sempre, remete a uma lenda do jornalismo gaúcho e brasileiro; aquele que por 49 anos esteve à frente da Companhia Jornalística Caldas Júnior, cuja a maior referência é o Correio do Povo. Assumiu a direção em 1935, e nela permaneceu até 1986, quando a empresa foi vendida. Faleceu em 10 de setembro de 1989, aos 79 anos.
Breno teve o grande mérito de levar adiante, e de projetar ao máximo, o veículo de comunicação fundado pelo seu pai, Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior (sobrenome que se alinhou como marca de todo esse conglomerado de imprensa). O Correio do Povo, fundado em 1° de outubro de 1895, quando recém a Revolução Federalista havia terminado, já estava plenamente estabelecido quando o fundador faleceu, de forma precoce, em abril de 1913, aos 44 anos. Caldas Júnior tivera três filhos do primeiro casamento com Arminda Porto Alegre, a “Mimosa” (Fernando, Dejanira e Marina);e mais três do segundo, com Dolores Alcaraz, de Sant’Ana do Livramento (Breno, Lúcia e Ruth).
Foi justamente Breno quem se ocuparia do legado do pai, como evidencia Breno Caldas: a imprensa e a lenda, biografia romanceada de autoria do jornalista Tibério Vargas Ramos, lançada pela AGE, em 384 páginas, edição de capa dura. A obra recupera a vida de um ícone das comunicações, e torna-se leitura obrigatória para os que desejem compreender melhor a história da imprensa no Estado.
O volume sobre Breno Caldas lançado por Tibério Vargas Ramos inaugura série que ele denomina Tempo & Destino. O autor detalha para a Gazeta do Sul o propósito do projeto: “São histórias reais, personagens próximas, como Breno Caldas, e outros importantes do imaginário coletivo de um tempo. Os outros dois volumes estão escritos, mas não sou poeta, incapaz de interferir em sua criação. Sou jornalista, corrijo, reescrevo, corto, acrescento. O livro sobre Breno Caldas me impactou tanto que tentarei passar aos outros o mesmo estilo”, comentou. É um estilo no qual, embora se trate de biografia, lança mão de alguns recursos da ficção.
“Há cinco anos, desde a demissão do enteado Fernando Caldas, em 1930, ela esperava para oficializar o filho como diretor do jornal. Aguardou a hora certa angustiada e pacientemente. Breno percorreu todos os ritos programados: conheceu os setores da empresa, formou-se em Direito e agora iria se casar com uma boa moça para acompanhá-lo durante toda a vida. Sua nomeação foi sacramentada com a impressão de seu nome no alto da capa do matutino, em 18 de dezembro de 1935, ao lado do nome de seu pai, o fundador. “Amém”, dona Dolores guardou o terço. Fez-se seu desejo.”
O desafio de elaborar uma biografia de Breno Caldas definitivamente não seria pequeno. Primeiro, pela importância desse personagem na imprensa e, logo, por sua complexidade; depois, pelo tempo a ser abrangido em um olhar retroativo, meio século de atuação efetiva dele na cena empresarial. Mas o jornalista Tibério Vargas Ramos mostrou-se à altura da empreitada, que demandou cinco anos. Natural de Alegrete, 75 anos, é jornalista profissional desde 1969, quando começou na Zero Hora, tendo se formado em Comunicação em 1971. Logo passou para a Folha da Tarde, idealizada justamente por Breno Caldas, e mais tarde atuou no Correio do Povo. Em 1977, começou a lecionar jornalismo na PUCRS, função na qual se aposentou em 2017, depois de 40 anos auxiliando na formação de novas gerações de jornalistas. Atualmente, dedica-se à literatura, com romances, e em paralelo administra um site.
Personagem singular, Breno Caldas, diretor da Companhia Jornalística Caldas Júnior, conciliava a atuação na empresa com atividades pessoais ou familiares. Por exemplo: em vias de casar, adquiriu área de terras na Zona Sul de Porto Alegre, a Fazenda do Arado, para a criação de cavalos e ainda gado de corte (chegou a ter cinco fazendas, com cerca de 13 mil hectares). Seus cavalos de elite competiam no turfe, com amplo sucesso. Em paralelo, adorava velejar, sendo proprietário de iates.
O jornalista Tibério Vargas Ramos, no romance biográfico (ou em sua biografia romanceada), dedicado a Breno, busca iluminar em detalhes cada uma dessas facetas. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Sul, por e-mail, Tibério assim definiu o que, em seu entender, o livro pode inspirar em empresários ou nos que atuam no ramo da comunicação.
“É o retrato de um tempo. Tem acertos e erros de uma época e nenhum juízo de valor. Passou pela República Velha, Estado Novo, democracia, regime militar. O Jornalismo e o Direito não podem deixar de acreditar na verdade e na justiça, o passado mostra que a luta é permanente, às vezes parece que não há futuro, mas é preciso seguir, a luz pode aparecer no fim do túnel”, frisa.
Na entrevista, Tibério rememora o seu contato pessoal com Breno e com os veículos da Companhia Jornalística Caldas Júnior, bem como reflete sobre as marcas da imprensa e brasileira ao longo do século 20.