Tibério Vargas Ramos
Passados 140 anos, Anna Kariênina, cada vez mais linda e mais triste, continua encantando e emocionando. O romance de Liev Tolstói (1828-1910) mostra homens e mulheres vistos por homens e mulheres no fim da monarquia russa, no final do século 19, num jogo psicológico de percepções em que o mestre da técnica foi o americano Henry James (1843-1916) de origem irlandesa. Insegura e ciumenta, temendo perder a beleza, Anna era contraditória, amava o filho que teve com o marido e desprezava a filha gerada da relação com o amante. A partir de uma alegoria, Tolstói traspõe para o livro sua própria vida, a opção pela terra, preocupações sociais, crítica aos esnobes e a devoção tardia a Deus, tornando o enredo semelhante à sua própria biografia.