Tibério Vargas Ramos
Ensaios
1004 jornalistas assinaram manifesto de Herzog
A verdade acima de conceitos ideológicos e o iluminismo da liberdade para humanizar as pessoas

jornalista Vladimir Herzog (Reprodução)

Repórter da Folha da Tarde, de Porto Alegre, na década de 1970 (Arquivo Pessoal)

Tibério Vargas Ramos

Durante toda a década de 70, de 1970 a 1980, trabalhei como repórter da Folha da Tarde, de Porto Alegre. À noite, chegava na redação o policial Roque Chedid para censurar notícias do dia. Ele não proibia mentiras, mas verdades. Obedecíamos na força bruta. Jornalista que defende a volta da censura em 2023, pode ser tudo, menos jornalista. Eu sempre estive ao lado da liberdade, com destemor. Em 1976, naquela época em que Chedid frequentava a redação para censurar, assinei o manifesto nacional “Em Nome da Verdade”, para esclarecer as circunstâncias e identificar os militares e policiais responsáveis pela morte do jornalista Vladimir Herzog nas masmorras do DOI-CODI, em São Paulo. Continuo no mesmo lugar em defesa do jornalismo e liberdade de expressão.

Foi solicitado a mim pequeno depoimento por ter assinado o Manifesto “Em Nome da Verdade”, em 6 de janeiro de 1976, junto com outros 1003 jornalistas brasileiros, para o esclarecimento da farsa da morte do jornalista Vladimir Herzog, dada como suicídio, em cela da repressão política, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975. O Instituto Vladimir Herzog está tentando identificar quem são estes jornalistas para posterior publicação do nome e dados sobre os signatários, em nova edição do livro ampliado “Dossiê Herzog: Prisão, Tortura e Morte no Brasil”, de Fernando Pacheco Jordão. O manifesto foi publicado como matéria paga em O Estado de S. Paulo, em 3 de fevereiro de 1976, e o custo dividido entre todos os signatários no momento da assinatura. Eis a resposta que enviei ao jornalista Mauro Malin que entrou em contato comigo:

Nascido em Alegrete, jornalista profissional desde 1969 quando comecei na Zero Hora, me formei em Comunicação em 1971. Naquele ano de 1976 eu era repórter policial da Folha da Tarde, de Porto Alegre, editor da revista católica Mundo Jovem e assessor de imprensa da Reitoria da PUCRS. Assinei na redação da Folha. No ano seguinte, 1977, comecei a lecionar jornalismo na Universidade Católica, onde me aposentei 40 anos depois, em 2017. Autor de dois romances – Acrobacias no Crepúsculo e Sombras Douradas – a novela A Santa Sem Véu e Contos do Tempo da Máquina de Escrever, hoje sigo minha carreira literária, estou concluindo uma trilogia Tempo & Destino de histórias reais, administro um site para divulgar meus livros e escrevo na Revista Press. Assinei o manifesto porque como jornalista defendo a busca da verdade acima de qualquer conceito ideológico e vejo o iluminismo da liberdade como indispensável para a humanização das pessoas.

Tibério Vargas Ramos

Publicado em 13/10/2020
voltar

Desenvolvido por RaioZ.com Desenvolvido em Wordpress